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Quando uma mulher morre

Tendo em vista os últimos acontecimentos que marcaram nosso Estado, em especial a morte da pediatra e servidora Milena Gottardi, a equipe da Proex (composta em 90% por mulheres), se sensibiliza com todas as vítimas que de alguma forma sofrem com atitudes violentas. Com as palavras da professora da UFES e pediatra Dra. Sandra de Souza Martins, registramos nossa manifestação!

 

QUANDO UMA MULHER MORRE

Quando uma mulher morre, morrem com ela as mudanças que ela poderia fazer no mundo e na época em que viveu.

Quando morre uma mulher jovem a perda é maior ainda. Morre aquele pedaço de esperança de um mundo melhor.

Os pediatras sabem, há muito tempo, que quanto maior a escolaridade das mulheres numa comunidade, melhor o nível de saúde das crianças, menor a mortalidade infantil.

Crianças que ouvem as primeiras palavras pronunciadas com correção, compondo frases claras e completas melhoram a verbalização aprendem a escrever mais rápido e a melhor interpretar um texto escrito.

Esta correlação é muito mais evidente do que a correlação com a escolaridade dos homens, dos pais das mesmas crianças.

É claro que sabendo desses dados imediatamente pensamos na proximidade das mulheres com as crianças pequenas, com sua constante presença junto às crianças escolares e a valorização que dão a que elas também melhorem seu aprendizado.

Claro que pais também valorizam. E há pais assumindo de maneira notável este empenho.

Apenas vemos que além de valorizar o estudo, de estimular o progresso, no que ambos participam, manter a criança bem na escola envolve refeições em horários certos, roupas limpas e prontas para uso, recomendações diárias e repetidas sobre as obrigações escolares e, como observou Diogo Mainardi no livro que escreveu sobre seu filho que sofreu anóxia neonatal, a chamada reunião de pais e mestres, mesmo na Europa, é muito mais uma reunião de mães e mestres.

Quando morre um pediatra reduzem-se as oportunidades de mulheres e crianças receberem, além de tratamento médico, recomendações gerais sobre atitudes de promoção de saúde e de cuidados de prevenção, porque é esta a formação dos pediatras. E ela permanece mesmo quando os pediatras encaminham sua formação para níveis mais elevados de especialização.

Quando morre UMA pediatra, morre a chance de meninas e meninos verem que mulheres têm a mesma capacidade intelectual do que homens. E o conceito de igualdade precocemente se instala nas cabecinhas jovens.

Participando de um atendimento com Milena não esqueço uma frase dela:

-“Pediatra é diferente, não é? A gente pode se especializar, mas sempre olha a criança como um todo”.

Quantas crianças e mulheres perderam a chance de conviver com Milena Gotardi ?

Ela só tinha 38 anos.

Como contabilizar este prejuízo que teve o país e esta geração?

 

Texto: Dra Sandra Martins - Departamento de Pediatria UFES

 

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